Dava-se o nome de calourada a uma festa comumente organizada em início de semestre letivo das faculdades, que tinha como objetivo recepcionar os novos alunos. Na verdade, os veteranos é que realmente aproveitavam essas festas. Costumava-se contratar bandas, DJ's e apresentações diversas para atrair os estudantes. Os alunos da faculdade em questão normalmente tinham desconto, mas qualquer um podia adquirir ingressos.

Essa calourada em questão era de enfermagem, e era realizada numa grande área livre da Universidade. Eu e Mi chegamos por volta das 22:20, após estacionar o carro. Havia várias barracas vendendo bebidas alcoólicas na entrada. Compramos nossos ingressos e entramos. O fluxo de pessoas entrando era grande, e já tinha muita gente do lado de dentro também. Eu deixava que Michelle comandasse a noite:

— Vamos dar uma volta pra ver os ambientes!

— Tá.

Descobri logo que eram dois ambientes, um com DJ tocando música eletrônica e outro com banda, que ainda estava se aquecendo para começar. Demos uma caminhada no meio do pessoal que esperava a banda começar, parando volta e meia para conversar um pouco e olhar as pessoas em redor. Eu estava gostando da festa, pois tinha muitas garotas bonitas. E era a primeira vez que eu conseguia prestar atenção em outras garotas nos últimos três anos.

— Hummm, tá de olho nas meninas, hein?

— Hã? Do que você tá falando?

— Hahaha, deixa de ser bobo, é pra olhar pra elas mesmo.

E enquanto completava essa frase entrelaçou seu braço no meu, como que desafiando as garotas a se aproximarem.

Depois de alguns minutos, fomos ver o ambiente de dance. Era numa área mais distante e uma tenda tinha sido armada, dentro da qual estava o DJ com sua mesa, as caixas de som e um bom jogo de luzes. A animação estava intensa no local. As pessoas vibravam freneticamente ao som ritmado da música.

Eu estava considerando a possibilidade de dançar, quando senti duas mãos tapando meus olhos.

— Quem é?

Ninguém respondeu.

— Xii, eu não vou adivinhar.

— Nem ouvindo a minha voz?

— Bárbara?

Então ela tirou as mãos e me abraçou.

— O que um nerd como você faz numa calourada?

Antes que eu pudesse responder, percebi que ela estava com os olhos em Michelle, que não sorria.

— É a sua namorada?

— Ah... não, não!! Ela é minha amiga! Michelle, essa é a Bárbara, que joga RPG comigo.

Michelle então falou com ela.

— Ah, então você que ocupa os domingos do Max, hein?

— Hehehe, pois é, andamos jogando todo domingo. Ah! Essa é a Kathy, minha amiga.

Só então percebi que tinha uma ruiva bonitona com ela. Eu e Mi falamos com a garota, que usava pouca roupa e atraía os mais diversos olhares. Confesso que o meu também.

Mas notei que Bárbara estava igualmente bonita, de saia solta acima dos joelhos e uma blusinha de alça. Suas pernas eram bonitas.

— Vocês estavam indo dançar? Vamos lá!

E me puxou pela mão para o meio do povo. Kathy e Mi nos seguiram e formamos uma roda. Eu não dançava muito bem, mas estava me virando imitando os movimentos delas.

As músicas eram boas, apesar de que às vezes muito remixadas, tornando árdua a tarefa de reconhecer a música original por trás das batidas. Em mais ou menos uma hora que passamos dançando em grupo, reconheci duas músicas de Angel. Uma delas era justamente "Dancing for me", que tinha tocado naquela festa pouco mais de três anos atrás, no momento em que eu me apaixonara por Nicole.

Aquele instante passou pela minha cabeça, mas fui tirado da reflexão por Bárbara, que me pegava pela mão para dançar mais próximo dela. Ela parecia bastante animada. Só então me dei conta que eu estava dançando com três belas garotas e que metade da pista olhava para nós. Claro que a fonte principal das atenções era Kathy, que não cobria mais de um palmo de suas pernas e atraía os olhares até mesmo dos rapazes acompanhados.

Após cansarmos de dançar, resolvemos beber alguma coisa. Sentamos numa barraca dos formandos de enfermagem, que visavam arrecadar finanças para seu baile. Eu e Mi pedimos coca-cola, Bárbara pediu fanta uva, e Kathy uma cerveja. Mi estava do meu lado esquerdo e Kathy do direito, de forma que Bárbara estava em frente a mim. E, sem perceber, me vi mergulhado em seus olhos cor-de-mel. Como eram lindos! Não reparei nem que ela estava vendo minha admiração, só quando ela deu um sorriso, exibindo belos e brancos dentes envoltos por sua boca vermelha. E retribuiu meu olhar penetrando fundo em meus olhos verdes. Eu não sei dizer quanto tempo passamos assim, imersos nos olhos um do outro. Pode ter sido meia hora ou 30 segundos, mas foi eterno na minha mente. Só saí desse semi-transe místico quando Kathy falou algo:

— Vocês não vão beber seus refrigerantes? Quero dar uma passada no palco, pois tão tocando uns covers de metal muito bons!

Ela e Mi já tinham acabado seus refrigerantes, Bárbara estava na metade do dela e eu mal tinha tocado no meu. Apressei-me, enchendo rapidamente meu estômago de gás, e prontifiquei-me:

— Quando quiserem ir, pra mim tudo bem.

E fomos para o show de metal. Decidi puxar assunto:

— Bárbara.

— Oi!

— Você sempre vem a essas festas?

— Que nada! Praticamente não saio assim, só vim porque Kathy insistiu. E você? Não tem muito jeito de quem curte balada.

— É, não mesmo. Mas dessa eu estou gostando.

E dei um sorriso.

Ela sorriu de volta:

— Eu também.

Passamos alguns segundos em silêncio, que ela quebrou:

— Max.

— Hum?

— Pode me chamar de Babi, tá? Bárbara fica parecendo minha mãe falando.

— Pode deixar, Babi!

Babi...

Ficamos um tempo no show, até que começou uma outra banda que não era boa. Dançamos mais um pouco na arena do DJ e então Kathy quis ir embora. Fomos nos despedindo.

— Até domingo, Bárb... Babi.

— Amanhã, né?

— É mesmo, já é sábado! Então até amanhã.

E ela me deu um abraço e beijou minha face.

Mi olhou para mim e riu. Eu não entendi, e ela disse:

— Quer ir também?

— Se você tiver afim, ok.

— Vamos, então.

E entrelaçou seu braço no meu enquanto caminhávamos em direção ao seu carro.

— Bonita a Bárbara.

— Não é simpática ela?

— Sim, bem mais que uma certa pessoa, devo dizer.

— De quem você está falando?

— Nicole, claro.

— Ué, mas por que você está comparando as duas?

Michelle virou a cabeça e olhou bem nos meus olhos.

— Você não percebeu, não foi?

— Eu não estou entendendo nada!

— Você está se apaixonando pela Bárbara, Max.

Aquela frase desceu pela minha garganta suavemente... Apaixonar... Bárbara...

— Estou?

— Claro, bobo. Passou a noite com os olhos grudados nela, sorriu feito um babaca, puxou assunto, etc., todos os sintomas de uma nova paixão.

— Aimeudeus, acho que é mesmo!

Chegamos ao seu carro, ela me abraçou, encostando sua cabeça no meu ombro.

— Eu não quero que você sofra, Max.

— Mas dessa vez pode ser diferente.

— É, eu creio que sim.

— Você notou algo?

— Bem, mulheres são mais difíceis de interpretar os sinais assim, mas ela com certeza gosta de conversar contigo e lhe acha atraente. Se vai passar disso, eu não sei. E talvez nem ela saiba ainda.

— Hum-rum...

Então entramos no carro e fomos lanchar algo naquela mesma lanchonete onde nos tornamos amigos no ano passado.

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