No domingo teve RPG. Foi a primeira vez em que vi Babi depois da sexta-feira em que ela me deu um fora. Fui o primeiro a chegar, logo sucedido por Gary e Julianne, que já chegaram juntos e de mãos dadas. Gary me pôs a par do que tinha acontecido na última partida e eu já estava até empolgado para jogar.

Foi quando Babi chegou.

Percebi que eu estava realmente apaixonado. Assim que a vi, meu coração disparou, a adrenalina percorreu minhas veias e eu comecei a imaginar coisas. Ela veio falar comigo delicadamente.

— Maaax! Há quanto tempo!

— Oi, Babi. Tudo bom contigo?

Me abraçou e eu já estava agoniado.

Após alguns minutos, Sean apareceu e começamos a partida.

Eu não estava conseguindo prestar muita atenção no desenrolar dos fatos narrados por Gary, e muito menos nas ações dos jogadores, pois meus olhos e meu pensamento não desgrudavam de Babi.

— E então, Max?

— Oi?

— Vai concordar com a proposta de Badrorn?

— Proposta?

— Ué, você não ouviu? De seguir pela caverna para tentar surpreender os hobgoblins?

— Ah, é, é, pode ser.

A partida durou umas 2 horas e meia e quando encerrou, Gary pediu que eu o esperasse. Babi, Julianne e Sean se despediram enquanto eu e Gary arrumávamos as coisas.

— Max, cara, você tava voando hoje! Tive que chamar sua atenção umas três vezes. Tem que prestar atenção na partida, né?

— Putz, Gary, foi mal!

Fui para casa pensando a respeito. Eu realmente não tinha prestado atenção ao jogo, pois só pensava em Babi. Por que as coisas tinham que ser assim? Seria tão bom se estivéssemos namorando, já pensou? Bah...

Passei mais uma semana imerso nos trabalhos da Universidade. Então, no sábado, estreou um filme que eu queria ver, e decidi ir ao shopping. Chamei Michelle, mas ela já tinha marcado de namorar. Saí de casa até meio chateado por me sentir em segundo plano.

Antes do filme, fui fazer um lanche na praça de alimentação. Comprei um sanduíche e estava começando a comer, distraído, quando uma bandeja foi colocada na minha frente.

— Maaaaax!!

Era Isabelle! Eu não a via desde o final do ano passado.

— Isabelle!

Trocamos beijinhos e ela se sentou à minha frente.

— Me conta, Max! Como você tá? E seu curso?

— Ah, tá bacana! Tudo correndo bem, tou me dando bem, etc. E você?

Então conversamos uns quarenta minutos sobre assuntos saudosistas do colégio, e sobre nossas vidas atuais. Até que ela começou um assunto estranho.

— Eu era muito boba, sabe? Nunca te disse nada.

— Hum? Sobre o quê?

— Eu era apaixonada por você, Max.

— O quê?!

— E então? Desde a oitava série! E só fui desencanar perto do final do segundo grau.

— Caramba! Você tá brincando, né?

— Não, não. É sério mesmo, hehehe. Não sei porque nunca tive coragem de te dizer.

Só então percebi que até Nicole aparecer, eu também gostava dela. Nic surgiu para atrapalhar. Caso contrário, eu e Isabelle teríamos namorado.

— Eu... não sei o que dizer.

— Tudo bem. Eu não quis dizer antes porque você gostava da Nicole mesmo, não adiantaria.

— Mas...

— Relaxa, Max, isso é passado.

— Antes de gostar dela, eu gostava de você, Isabelle!

— Agora você tá brincando comigo.

— Mas é verdade!!! Na oitava série!!

— Hahaha! Que coisa, hein? Acho que era nosso destino ter uma paixão não-correspondida durante todo o segundo grau.

— É...

E continuamos a conversar por mais de uma hora. Deixei o filme pra outra oportunidade.

Saí do shopping chocado por ter chegado tão perto de namorar alguém.

Felizmente não houve RPG no domingo seguinte ao novo fora, pois eu preferia não ver Babi agora.

Para minha surpresa, na semana que se sucedeu à fatídica sexta-feira, os professores todos encheram minha turma de trabalhos. Tive que me entrosar com alguns colegas para fazer trabalhos em grupo. E também tive que fazer pesquisas na Internet, ler livros, responder exercícios, preparar apresentações, etc.

Ao final da semana, Gary me telefonou:

— Fala, Max!

— Oi, Gary.

— Domingo vai ter RPG!

— Cara, acho que não vai dar pra eu ir. Tou até o pescoço de trabalhos para a semana que vem, uma loucura!

Sim, isso era verdade. Mas eu poderia dormir menos em algum dia e dar um jeitinho. Contudo, juntando os trabalhos à minha vontade de não ver Babi por uns dias, decidi não ir.

— Puuuutz, mas que mau, hein?

— É, tá fogo!

— Mas e aí, como andam as coisas com a Babi?

— Ah, não vai rolar.

— Sério??

— Pois é, ela não tá afim.

— Ah, tou ligado. Eu falei com a Julianne.

— E aí?

— Ficamos duas vezes. Estamos pensando se queremos algo mais sério.

— Que bacana!

— E então? Muito gata ela!

— Verdade. Ei, Gary, eu vou nessa. Bom jogo pra vocês. No próximo domingo eu volto, beleza?

— Ok, Max. Bons estudos!

E assim passei o final de semana isolado, imaginando como estava a partida de RPG do pessoal. No final da tarde de domingo, Mi apareceu lá em casa de surpresa (não sei como ela adivinhou que eu não tinha ido jogar) e me arrastou para tomar um sorvete com ela.

— E aí, Max? Como andam as coisas?

— Ah, eu nem tenho pensado muito nela. Trabalhos demais a fazer.

— Entendo... melhor assim. Eu tenho uma novidade pra te contar.

— O que houve?

— Tou namorando.

— O queee???

— Ficou com ciúmes, foi?

— Hahahaha, claro que não!!!

— E por que essa reação?

— Só me surpreendi! Mas quem é o cara?

— Por que você tem certeza que é um cara? E se eu fosse lésbica?

— Heeeeinnn???

— É um cara, hehehehe! Ah, ele paga uma disciplina comigo, e eu fiz um trabalho em grupo com ele e outro cara, e aí ficamos conversando de vez em quando antes ou depois das aulas. E achei-o um cara legal. Mas nem tinha pensado em nada além, até que rolou um clima estranho na lanchonete e ele me beijou!

— Uaaaaaaaaau!!!

— E eu gostei do beijo. E daí decidimos namorar!!

— Muito bom, Mi! Fico feliz de saber que você está feliz.

Bem no fundo meu egoísmo me fez crer que nos afastaríamos um pouco agora. Mas esse sentimento se perdia em meio à minha real felicidade por ela estar namorando.

Tomamos mais sorvete e depois voltei para casa.

Cheguei em casa e fui para o chuveiro, correndo. Lá sentei-me no chão debaixo da água corrente e deixei as lágrimas fluírem.

Novamente isso estava acontecendo comigo. Primeiro Nicole. Agora Babi. Nada dá certo na minha vida emocional?

Se eu ao menos fosse mais religioso, teria vocação para monge.

Poxa, e o que significou aquela demorada troca de olhares? Ela parecia gostar de mim, caramba!

Inferno...

Eu não devia ter entrado nessa! Tava tudo tão bem... eu até esqueci Nicole! Mas para quê? Só para colocar outra no lugar dela? Eu não posso começar tudo de novo!! Não mesmo!

Mas será que dessa vez não vai ser diferente? Será que eu não a conseguiria conquistar? O que eu perderia tentando? Ah... eu não sei mais...

Saí do chuveiro e liguei pra Michelle.

— Oi, Mi.

— O que houve, Max? Pela sua voz, parece que você acaba de levar um... não!!!

— É, isso mesmo.

— Você ligou pra ela?

— Chamei-a pra tomar um sorvete hoje.

— E aí??

— Aí eu disse que tava gostando dela, que nossos gostos combinavam, que eu a achava interessante e queria saber o que ela sentia.

— E ela?

— Disse que sentia muito, mas só me via como amigo.

— Putz...

— Pois é.

— Você tá em casa?

— Tou.

— Posso ir aí?

— Pode.

— Tá, em meia hora eu chego. Beijo!

Uma hora depois ela bateu lá em casa. Minha mãe já tinha chegado e eu disse que Mi vinha jantar e sugeri que ela pedisse uma pizza.

Mi entrou, cumprimentou minha mãe e fomos pro meu quarto.

Sentamos na minha cama, encostados na parede.

— Como você tá?

— Sei lá...

— Como "sei lá", Max?

— Ah... é, eu tou triste.

Ela me puxou e me fez deitar a cabeça no colo dela. E começou a afagar meus cabelos.

— Essas coisas acontecem, Max.

— É, mas só eu tenho tanto azar.

— Não. Não é só contigo. E isso não é azar. É que você é especial, e está procurando alguém especial também, não é fácil de encontrar.

— Caramba! Agora que eu esqueci Nicole, tava todo animado com Babi e me acontece uma dessas!

— Melhor não dar certo antes de começar do que depois, você sofre menos.

— E quem disse que não daria certo? Como ela pode saber antes de tentar?

— Mas não seria correto ela tentar sem sentir nada por você.

Passamos mais uma meia hora naquela conversa, até que minha mãe bateu pra avisar que a pizza estava na mesa. Jantamos, depois jogamos bastante videogame, e vimos clipes na Internet. Mi saiu lá de casa no meio da madrugada.

— E aí, Max? Tudo bem contigo?

Babi me abraçou, colocando os livros em cima da mesa.

— Tudo sim, e você?

— Ótima, fiz uma prova fácil agora!

— Que bom. Parabéns!

— Obrigada!

— Quer sorvete de quê? Pode deixar que vou pegar pra nós.

— Ah, napolitano.

— Tá.

Fui no quiosque, pedi um napolitano e um de chocolate pra mim. Quando entreguei o sorvete a ela, eu estava tremendo. Mas acho que ela não percebeu.

Ela puxou assunto:

— Que pena que não vai ter RPG nesse domingo, hein?

— Pois é...

Eu não conseguia raciocinar muito bem, estava muito nervoso e me concentrando em não deixar o sorvete derreter em cima de mim.

Alguns minutos monossilábicos depois, ambos concluímos nossos sorvetes. Tinha que ser agora. Se eu não falasse, não falaria mais.

— Babi, eu queria conversar com você.

— Tudo bem. Conversemos então.

— Vou falar e você só ouve e quando eu acabar você fala algo, tá?

— Tá.

— Então, eu sempre procurei uma garota que tivesse gostos que combinassem com os meus. E quando te conheci, nem me dei conta disso, pois eu não estava exatamente à procura de alguém naquele momento. Mas na calourada alguma coisa mudou. Só percebi depois, mas naquele dia eu te vi como uma garota realmente interessante. Então, eu... é... tou dando voltas, mas o que quero dizer é que estou ap... eu gosto de você. E queria saber o que você sente.

Passamos uns dois minutos em silêncio, nos quais ela não tirou os olhos dos meus. Eu não sabia o que ela estava pensando, mas um turbilhão de possibilidades passou novamente pela minha cabeça.

— Eu... já disse o que tinha que dizer.

— Ok. É que... eu não esperava.

— Se você quiser me dizer algo outro dia, tudo bem.

— Não, eu... tenho uma resposta.

Meu coração batia recordes de batimentos por minuto. Naquele momento, eu descobri que não tinha problemas cardíacos, ou teria ido pro hospital.

— Max, você é um cara muito legal. Mas... eu sinto muito. Só te vejo como um amigo.

Não!! De novo não!!! Por que??? Eu mereço realmente passar por isso?

Naquele instante, eu ainda não sei como, agi racionalmente e a respondi com naturalidade, sem deixá-la perceber o impacto que a resposta tivera em mim.

— Tudo bem, Babi. Não podemos escolher essas coisas, não é?

— Sinto muito, Max.

— Sem problemas.

Ficamos mais alguns minutos em silêncio, cada um com seus pensamentos. Eu então vi que precisava sair dali, e ir para casa me confortar no travesseiro.

— Bem, eu vou nessa. No outro domingo a gente se vê. Até mais!

— Tchau, Max.

E saí sem abraçá-la, apressado para pegar o ônibus e chegar logo na minha cama.

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