PARTE II - Capítulo 2: O Jogador de RPG

E então as aulas começaram. Algumas bastante interessantes, outras um pouco menos. Mas eu estava deveras entusiasmado com o curso e não perdia um minuto de nenhuma aula. Como na época de colégio, gostava de chegar com uma boa antecedência, normalmente de vinte minutos a meia hora. Aproveitava esse tempo para ler avisos, propagandas e notícias pelos blocos.

E assim se passaram as duas primeiras semanas dessa nova fase da minha vida. No sábado seguinte, antes do almoço, telefonei para Michelle.

— Oi, Mi!

— Max!! Que saudades! Nem me liga, né?

— Ué, não estou ligando?

— É, depois de duuuuasss semanas de aula!!! Duas!!

— Ah, desculpa! Acabei me empolgando com o curso!

— Que ótimo! Então você tá gostando mesmo?

— Tou sim! Tem uma ou outra disciplina menos interessante, mas no geral tou achando o máximo! Mas e você, se dando bem?

— Sim, sim! As disciplinas estão divertidas também! Mas, ei! O que você vai fazer mais tarde?

— Humm, ia só dar uma navegada pela net. Por quê?

— Então umas quatro eu passo aí pra te pegar.

— Opa! Pra ir pra onde?

— Ah, sei lá, rodar no shopping, cinema, qualquer coisa é melhor do que ficar em casa! E eu tou com saudades de você!

— Então combinado! Até mais, Mi!

— Beijo, Maxie!

— Outro.

E assim arrumei programa pro sábado à tarde.

Quatro e quinze, Michelle buzinou. Beijei o rosto de mãe e saí. Ela tava de jeans e uma blusa preta bem bonita. Exibia um óculos escuro novo e que parecia ter sido caro.

Entrei no carro e ela me abraçou loucamente!

— Poxa, Max! Faz um tempão que a gente não se vê! Preciso te contar uns babados! Mas a gente conversa no shopps!

— Ok!

Logo chegamos no shopping, sentamos na praça com imensos sorvetes à nossa frente e ela desandou a falar pelos cotovelos:

— Max, você não sabe da maior! Lá fui eu toda animada pra primeira aula de Introdução ao Estudo Veterinário, e quando eu entro na sala, um carinha alto, musculoso e bonitão tasca logo os olhos em mim. Sabe aqueles bem bobos? Bem, burro ele não é tanto pois passou no vestibular. Mas é meio retardado! Não consegue tirar os olhos de mim, não sabe disfarçar nada! Quando foi anteontem, eu saindo da aula apressada, ele vem atrás de mim.


— Michelle?

— Hum?

— Podemos conversar?

— Agora?

— É, eu serei rápido.

— Tá, pode dizer então.

— Não podemos sentar?

Então nos sentamos num banco bem desconfortável e ele falou:

— Então, é que desde o primeiro dia de aula te achei bem gata.

— Como é seu nome mesmo?

— Robert, mas pode me chamar de Robbie.

— Ok, Robbie. Então você disse que sou uma gata. E?

— Bem, eu pensei que talvez pudéssemos sair essa sexta.

— Sair??

— É, vai ter uma festa lá no distrito!

— Ah... bem, é que... dessa vez não vai dar. Deixamos pra outra, ok?

Robbie pareceu desanimado e eu fui logo saindo de cena:

— Agora eu tenho que ir. Até segunda!


— E agora, Max?

Eu só conseguia achar divertida a forma como ela tratara o carinha.

— Você tá rindo, Max??

— Hehehe, foi mal! É que o cara deve ter ficado triste, você o tratou como um ninguém!

— Mas, Max! Ele É um ninguém!

— Hahaha! Eu sei, eu sei. Mas mesmo o cara sendo meio mané e sem-noção, você não pode tratá-lo assim tão mal.

— Por que não?

— Você gostaria que alguém em quem você tivesse interessado te tratasse dessa forma?

— Mas eu não sou imbecil como ele!

— Eu não estou dizendo isso. Gostaria ou não?

— É, acho que não.

— Então o chame para conversar essa semana e diga a ele que não tem interesse. É melhor do que ele ficar pensando que tem chances ou então ficar levando toco seu o tempo todo!

— Humm. É, acho que você está certo, Maxie!

Vimos uma comédia romântica no cinema, comemos batata recheada e depois Mi me deixou em casa.

Na segunda seguinte, não tive a primeira aula. E tinha que esperar pela segunda, então fui dar uma volta pelo campus. Resolvi sentar em um banco e observar as pessoas. De repente, eu até encontrava uma menina bonita. Então, notei um cara de boné com uma camisa preta com um dragão. Ele estava entretido olhando um livro grande.

Disfarçadamente (ou o melhor que pude fazer nesse sentido) observei um tempo ele folhear aquele livro, até que desconfiei se tratar de um manual de RPG. Como eu realmente não disfarço bem, ele percebeu que o olhava e veio até mim.

— Opa, cara! Cê joga RPG?

— Eu? N-não, não. Digo, nunca joguei.

Ele se sentou ao meu lado e continuou a conversa.

— Esse aqui é o manual novo de Medieval Land, já viu?

— Ouvi falar. Posso ver?

— Claro, olha aí!

Devo ter passado uns vinte minutos deliciando-me com as páginas daquele livro, todas coloridas e cheias de desenhos fantásticos. Li por cima algumas coisas, e tudo aquilo parecia ser bem bacana!

— Eu tou procurando gente pra jogar, você não tem uma turma interessada?

— Ah... na verdade não.

— Então o que acha da gente procurar uma galera pra começar umas mesas?

— É?

— Topa?

Refleti uns instantes sobre essa possibilidade e percebi que poderia ser a vida me dando um novo rumo. E esse rumo parecia bem interessante.

— Eu topo sim!

— Beleza! Eu me chamo Garrison, mas pode me chamar de Gary.

— Max!

— Prazer, Max.

Então eu e Gary trocamos telefones e ficamos de buscar por aí pessoas interessadas em RPG. Não que eu tenha muito... tato para falar com desconhecidos do nada, mas não custava tentar. Isso poderia ser legal!

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