PARTE I - Capítulo 43: A Festa Frustrante

Então veio mais uma festa. Seria minha última no colégio. Nicole não estava namorando ninguém. Então eu decididamente não podia perder essa chance. Acertei de ir com Mike e Tom. Quando chegamos, a primeira pessoa que eu vi foi Isabelle. Ela veio falar conosco e me surpreendi quando beijou minha face. Estava muito bonita, com um vestido amarelo na altura dos joelhos e sapato alto. Lembrei-me de quando eu gostava dela. Eu era muito inocente naquela época. Jamais pude imaginar que os sentimentos das pessoas chegavam aos níveis intensos pelos quais circulo hoje. Ódio por todas as mancadas que dei. Raiva pelo Brad ter tocado nela mais do que eu, por ela tê-lo beijado. Amor. O mais profundo amor, que eu sinto por Nicole. O que de melhor já aconteceu na minha vida. Vale passar por todas as coisas ruins pelas quais passo em detrimento dele. Eu não sei mais viver sem esse amor.

Estávamos eu, Isabelle, Mike e Tom e então chegou o imbecil do Brad. Falou com todos e teve a cara de pau de perguntar:

— A Nicole ainda não chegou?

Fingi não ter ouvido essa pergunta odiosa e deixei que Tom respondesse:

— Rapaz, não a vi por aí não.

Passaram-se uns vinte minutos e nada da minha princesa surgir. Eu estava muito nervoso. Tinha decidido fazer mais uma tentativa. Torcia para o fracasso do ano passado não se repetir.

Logo, a baixinha com a voz estranha que sabia que eu gostava de Nic apareceu:

— Oi, Max! Posso ficar com vocês?

— Ah... oi... como é seu nome mesmo?

— Michelle! Eu lhe disse no ano passado.

— Foi mal, é que eu esqueci.

— Então, posso ficar?

— Ah, sim, sim! Tudo bem.

Mais quinze minutos e nada de Nic. Ela estava muito atrasada dessa vez. Já fazia uma meia hora que a banda tocava. Isabelle propôs:

— Vamos lá pro meio dançar! Podemos fazer uma roda.

Então fomos. Dancei meio distraído por uma hora e depois fui comprar um refrigerante. Bateu-me uma tristeza inconsolável. Ela não viria. Não haveria mais festas como essa com ela. Perdi as duas chances que tive. A inesquecível primeira festa e a completamente esquecível segunda festa.

Bebi metade do refrigerante e então senti uma incontrolável vontade de chorar. Larguei a lata e fui ao banheiro. Tranquei-me em um daqueles cubículos imundos e deixei as lágrimas correrem...

Por quê? Por que ela não veio? Eu mereço mesmo passar por tudo isso? O que eu vou fazer da minha vida sem ela? O que vou fazer? Como posso prosseguir dessa maneira?

Chorei infindáveis quinze minutos e então comecei a me acalmar. Decidi passar mais uns vinte minutos e então ir para casa, com a desculpa de que estava passando mal. E decidi que esse ano eu lutaria mais bravamente. As coisas pareciam perdidas, mas não estavam. E quanto mais momentos como aquele no lago eu conseguir ter, melhor.

Dancei mais um pedaço com o pessoal, sem prestar muita atenção na música e pensando nas ações que tomaria. Então resolvi que era melhor ir dormir.

— Pessoal, eu não tou me sentindo muito bem, vou indo, beleza? A gente se vê segunda no colégio!

Isabelle pareceu espantada.

— Já? Mas a festa mal começou!

— Eu sei, é que estou precisando dormir. Até mais.

Fui me afastando e então a tal da Michelle me alcançou.

— Espera. Eu te deixo em casa.

— Hã!?

— É, eu tenho carro e habilitação.

Aquela oferta me soou muito estranha.

— Mas você vai sair da festa assim? Tão cedo?

— Ah, tá muito entediante. Você está me fazendo até um favor.

— Se é assim... tudo bem.

O carro dela estava no estacionamento. Só então prestei atenção ao modo como ela estava vestida. Uma blusa comprida preta, de uma banda de rock e calça jeans, com tênis All-Star preto. Um estilo mais simples do que Nicole costumava ir para as festas.

O carro era um bem compacto, daqueles que os pais ricos dão de presente às suas filhas, quando estas alcançam a idade de tirar habilitação. Entramos e ela tirou do estacionamento, um pouco atrapalhada, mas bem.

— Por que será que ela não veio, hein?

— O quê? Do que você está falando?

— Ah, não precisa ficar fingindo que estou falando algo do outro mundo. Eu sei que você gosta da Nicole e não precisa se estressar que eu não vou contar a ninguém.

Passei uns dois minutos em silêncio tentando assimilar tudo aquilo.

— Alôô? Marte para Terra, tentando contato... há alguém aí?

— Desculpe. Está bem, você está certa.

— É, eu sei que você está indo para casa porque esperava encontrá-la hoje na festa e se decepcionou porque ela não foi.

Enquanto essa estranha conversa se desenrolava, ela ia dirigindo e nem me toquei que não tinha dito onde morava.

— Mas... como você sabe tudo isso?

— Eu leio mentes.

— O quê?!

— Tou brincando, bobo! Hehehe.

— Eu sei!

— Ah, eu noto os sinais. Digamos que sou muito perceptiva e a esmagadora maioria dos homens não é bom em esconder o que sentem ou o que pensam. Suas expressões e olhares denotam tudo!

— Mas isso é incrível!

— É nada, tem muitas mulheres observadoras.

— Sério?

— Claro. Não a maioria, mas uma razoável porcentagem.

— Puxa! É admirável essa habilidade feminina!

Então de repente prestei atenção ao trajeto e estávamos estacionando numa lanchonete!!!

— O que estamos fazendo aqui?

— Você precisa conversar e aqui tem um sanduíche que eu gosto.

Desci do carro seguindo aquela menina surpreendente! A noite tinha dado uma guinada de quase 180 graus! De decepcionante estava se transformando em interessante.

A lanchonete era muito legal. Imitava o estilo dos anos 50, inclusive na existência de uma jukebox e nas roupas e penteados das garçonetes. Sentamos, escolhemos nossos sanduíches e fizemos o pedido.

— E então? Desde quando você gosta da Nicole?

— Err... desde o início do 1º ano.

— Nossa! Esse tempo todo? E você tentou algo com ela?

— Mais ou menos. Eu nunca disse abertamente que gostava dela. Mas ela disse que sabia.

— E você? Quando ela disse que sabia, você não fez nada?

— Eu... eu neguei.

— Putz! Mas por que você fez isso?

— Eu não soube agir. Sou ruim em decisões rápidas e acabei agindo erroneamente. Fiquei com vergonha e neguei. Sou muito arrependido disso.

— Mas não adianta se arrepender. Olhe para frente, esqueça o que já passou.

— É difícil.

Enquanto o sanduíche não chegou, resumi alguns dos fatos que tinham se passado. Então a garçonete cinqüentista trouxe nosso pedido. Era mesmo delicioso.

Acabamos o lanche e ela recomeçou o assunto.

— Conte-me alguns momentos e tal, como se apaixonou.

Apesar da estranheza da situação, me abri com Michelle. Era a garota mais estranha que eu já tinha conhecido. Contei tudo. Nunca tinha contado minhas coisas assim a outras pessoas. Contei a Isabelle, mas só que eu gostava de Nic e umas bobagens mais. A Michelle eu contei tudo. Quando me dei conta, eram mais de três da manhã.

— É... você está mesmo apaixonado!

— Estou.

— É muito bonito isso que você sente!

— Ah... é, é, é bom.

— Estou contente em ter te conhecido melhor, Max. Desconfiei que você precisava de ajuda hoje e valeu a pena. Afinal, quem não melhora um pouco após uma boa conversa?

— É verdade, eu me sinto melhor.

Que situação!!!

— Bom, vamos indo?

Rachamos a conta e voltamos ao carro dela. Dessa vez expliquei onde eu morava.

— Sabe? Você é uma pessoa legal.

— Ah, obrigado Michelle. Você também.

— E não fique convencido, mas é bonito também.

Ruborizei. Nunca uma garota tinha me dito isso.

— Se você não gostasse tanto dela eu poderia até gostar de você.

— É o que???

— Mas a situação não é favorável, então não vou cair nessa. Não vale a pena. Quero ser sua amiga apenas, tudo bem?

— Pra mim está ótimo. Mas por que você me procurou assim?

— É que sou meio sozinha e percebi que você também. E quando vi seu problema com Nicole achei que fosse uma boa oportunidade de me aproximar de alguém que me parecia legal, fazer um amigo, essas coisas.

— Fico muito feliz que tenha tomado essa iniciativa.

Chegamos então à minha casa.

Agradeci e ia descendo do carro quando ela segurou meu braço.

— Me dá um abraço!

Que figura! Abracei-a agradecidamente e entrei em casa estarrecido com a amiga que acabara de fazer!

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