Três dias após o Natal, acordei tarde e fui ver se tinha chegado alguma carta, como tinha se tornado meu hábito nas últimas semanas. Ao abrir a caixa de correio, fiquei paralisado observando aquele envelope azulado no qual eu já estava reconhecendo a caligrafia de Nicole.

Minha mãe tinha saído, então abri o envelope na sala e pus-me a ler.


Caro Max,


Não sei o que lhe dizer. Demorei a responder pensando nas palavras adequadas para me explicar. Eu quero dizer que sinto muito. Sinto muito mesmo. Jamais pensei que você sofresse dessa forma. Eu por um instante desconfiei que você gostasse de mim, mas como você negou, eu acreditei.

Sempre te tratei como um grande amigo, um irmão. Mas não passou disso. Posso ter te dado intimidades, mas porque achei que poderia fazer isso como se estivesse com um irmão.

Não se arrependa do que não fez. Não teria dado certo algo entre nós, pois somos muito diferentes. Você é um rapaz muito doce e merece uma garota igualmente suave. Eu sou muito direta e gosto de curtir os prazeres da vida.

Então eu quero que você saiba que jamais foi minha intenção te magoar e sequer passava pela minha cabeça que você gostasse tanto de mim. Peço que pense em outras coisas, curta mais a vida. Tenho certeza que uma garota legal vai aparecer no seu caminho, você vai ver!


Beijos,


Nicole


Fim. É, terminou aí a carta dela. Nunca. Ela nunca gostou de mim. Nunca. Irmão... Irmão!!!

Deixei que lágrimas escorressem de meu rosto enquanto eu pairava de joelhos no tapete da sala, com o envelope azulado numa mão e a carta do mesmo tipo de papel na outra.

Uma meia hora depois percebi que mãe poderia chegar a qualquer momento para o almoço e me levantei, guardei a carta no quarto, lavei meu rosto e deitei um pouco na minha cama.

Refleti alguns instantes, mais calmamente, sobre as palavras escritas à mão naquela carta. Concluí então que ela pode ter mentido. É isso! Ela disse que não sentiu nada por mim e que sempre pensou em mim como um irmão unicamente para que eu não me arrependesse do que deixei de fazer. Boa tentativa, Nic. Não funcionou...

É isso. Nada feito. Quase três anos dedicados a ela para receber nada em troca. A vida é assim. Foi uma ótima experiência amá-la. Mas eu queria ser correspondido. Realmente queria.

Nos dias que se seguiram eu me encontrei com Mi uma vez, na primeira semana do novo ano, e a contei da carta. Ela não disse muita coisa, só reforçou que eu merecia alguém melhor.

Resolvi também acabar de uma vez por todas com essa brincadeira que me acompanhou desde o início da adolescência e que nunca revelei a ninguém. Chega de Jamie. Chega de Cleve. Não preciso fingir que estou conversando com dois amigos com opiniões opostas para poder refletir sobre os acontecimentos. Inventei Jamie e Cleve aos 12 anos para analisar minhas dúvidas. Quando eu estava em dúvida sobre algum assunto, eu fingia que Cleve tinha uma opinião, sempre a mais doce e favorável; e Jamie outra, sempre a mais machista e direta. Os dois me acompanharam desde então, representando duas facetas da minha própria personalidade. Até mesmo os nomes são corruptelas do meu, Maxwell James Cleveland. Estou velho para isso. Agora eu tenho alguém que me estima com quem conversar. Jamie e Cleve fazem parte da minha adolescência, e agora devo ser um adulto, universitário.

O mês seguinte passou como um foguete. Saí umas quatro ou cinco vezes com Mi, fomos ao cinema, comemos besteiras e etc. Um dia ela me levou à sua casa e me apresentou à família. Parecem gente boa, embora relativamente calados. Almocei com eles e depois ficamos jogando videogame com o irmão dela.

E agora falta apenas uma semana para o início das minhas aulas. Estou nervoso. Como será? Gostarei de desenvolver games? Será fácil? As pessoas do meu curso... será que serão legais? O que essa nova fase da vida me reserva?



(FIM DA PARTE I)

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