Os dias seguintes passaram numa velocidade ridícula. Contei as horas. Quanto mais próximo eu estava da terça que poderia ser definitiva na minha vida, mais distante ela parecia. Os segundos se tornaram minutos e os minutos horas. Mas, enfim, chegou o momento.

Cheguei meia hora antes do combinado. A bibliotecária ainda não tinha chegado. Faltando dez para as duas da tarde, o horário que tínhamos acertado, dona Matilda, a bibliotecária, chegou. Deu-me boa tarde, e logo entrei, seguindo-a. Pedi um livro de matemática do primeiro ano e fui pensar em que partes iríamos estudar.

Duas e meia, após minha angústia ter em muito crescido, Nic chegou. Usava calça jeans – o que me decepcionou, pois esperava vê-la de saia – e uma blusa azul colada em seu corpo, além de tênis. Beijou minha face e sentou-se ao meu lado.

— Você não devia ter chegado há meia hora atrás?

— Bem, me atrasei um pouco, desculpa.

— Tudo bem.

Ela trazia um caderno debaixo do braço e um estojo na bolsa. Pôs ambos em cima da mesa, e me questionou:

— O que estudaremos?

— Bem, pensei em começar por matemática, alguma objeção?

— Não, está ótimo.

Comecei a ler um capítulo sobre Trigonometria, e aos poucos eu desenhava algumas coisas no caderno dela, e pedia para ela me mostrar se estava entendendo. Reconheço que ela tinha dificuldades em matemática. Precisei repetir alguns pontos, e mesmo assim, na hora de fazermos alguns exercícios, notei que ela ainda tinha dúvidas.

Nos momentos em que ela raciocinava e tentava resolver as questões do livro, eu me deliciava com seu perfume. Aproximei-me o máximo que meu nervosismo permitiu, e observei-a atentamente. Jamais eu tinha visto uma garota tão linda antes.

Quando olhei para o relógio, vi que já eram quase cinco da tarde. Eu tinha me empolgado tanto no assunto, além do fato de estar com Nicole, que o tempo voltou a correr, após a vagareza da espera com a qual eu já estava me habituando.

Essa era a hora ideal. Eu tinha planejado tudo. Eu perguntaria se não estava bom por hoje, e a chamaria para tomar um sorvete comigo em frente ao colégio. E então eu expressaria meus sentimentos. Parecia fácil.

Enquanto eu repassava meus planos, Nic acabou de resolver as questões que eu tinha indicado, e logo notei que afinal estavam todas certas. Ela olhou nos meus olhos como se quisesse dizer alguma coisa e eu fui corajoso:

— Acho que tá bom por hoje, né?

— Pensei que nunca ia se cansar.

— Ah, você já estava cansada?

— Não, tou brincando.

Ela começou a arrumar as coisas e eu me engasguei. Tinha que chamá-la para tomar sorvete. Foi se levantando, e rapidamente a segui. Devolvi o livro à dona Matilda, agradecendo, e saímos da biblioteca.

Descemos as escadas do colégio e já estávamos quase no portão, quando me esforcei:

— Nicole...

— Hum?

— Você não...

— O que foi, Max?

— É que..., bem...

— Por quê não conversamos enquanto meu ônibus não passa?

— Ok.

Nada de sorvete. Mas o ônibus dela trataria de demorar e eu poderia falar dos meus sentimentos, finalmente.

Sentamos-nos, sozinhos, na parada de ônibus e ela dirigiu-se a mim:

— Você ia falar alguma coisa, não?

Glup! Senti que meu rosto assumia diversas cores naquele momento. Meu coração parecia prestes a explodir. Nunca a adrenalina tinha me esmagado dessa maneira. Comecei a achar que a qualquer momento eu passaria mal.

— Eu... ia?

Nesse momento eu soube que não estava preparado para falar a ela. Eu não tinha coragem. Ela não gostava de mim. O que iria dizer? E se ela dissesse não? E se nossa amizade acabasse? E se não restassem chances para mim? Não. Decidi pelo meu bem adiar essa resposta. Preferi acreditar que ela gostava de mim mais um tempo e impedir meu coração de explodir impiedosamente, como parecia que ia fazer se eu não me acalmasse.

— Esqueci o que ia dizer.

Ela nada disse, apenas me olhou intensamente por alguns segundos. Senti-me fuzilado e novamente a adrenalina subiu. Eu não consegui olhá-la. Então ela pôs a mão no meu pescoço.

Quase morri! Senti que ela se aproximava e acreditei que ela fosse me beijar. Eu tremia de nervosismo. Senti seu rosto lentamente se aproximar do meu, e então ela me beijou. Na face.

— Tchau, Max, lá vem meu ônibus.

— T-tchau.

Fiquei por mais de meia hora sentado sozinho no banco da parada de ônibus. Eu tinha passado pela maior agonia da minha vida. E inexplicavelmente essa sensação de que o coração vai sair pela boca nos próximos segundos era agradável. E imaginei como seria se naquele momento ela tivesse beijado minha boca. Tinha sido apenas um beijo de despedida, e eu achando que era a confirmação de que ela gostava de mim.

Por dias, sonhei acordado com a boca dela tocando a minha. Nossos lábios fervendo em puro êxtase, nossas línguas se entrelaçando... mas era só minha imaginação.

Ainda na terça, pela noite, resolvi conversar com Jamie e Cleve sobre o que tinha acontecido.

— Então você não teve coragem para dizer que gostava dela...

— Não Cleve, não tive.

— É assim mesmo, Max. Foi sua primeira tentativa. Você terá outras chances, poderá dizer a ela o que sente.

— Cleve, não encha a cabeça do menino! Max, como você faz uma coisa dessas?

— Eu...

— Oportunidades como essa são poucas na vida, entendeu? Não as desperdice!

— Mas...

— Vou te dizer o que você deveria ter feito: tudo bem que você não tivesse coragem de se abrir com a garota, mas no momento em que ela pôs a mão no seu pescoço, foi um convite. E você não respondeu. Bastava pôr a mão no pescoço dela também, e beijar seus lábios, Max.

— Mas como eu podia saber se ela queria que eu a beijasse ou não?

— É um risco, mas ela parecia querer seu beijo, e não te beijou achando que você não queria.

— Não!! Sério?

— Eu creio que sim. Quando tiver chance de beijar uma garota da qual gosta, beije. Se ela não gostava de você, pode até passar a gostar após o beijo. E se não acontecer, não aconteceria de maneira alguma, e você ficaria logo sabendo.

— Hum. Droga! Que chance eu perdi!!!

Senti vontade de chorar, e as lágrimas desceram sobre minha face.

— Puxa, Jamie, olha o que você fez com ele!!! Não chora, Max. Vai dar tudo certo!

Mas o estrago estava feito. Eu tinha perdido uma chance que poderia jamais acontecer novamente. Chorei até tarde deitado na minha cama. Só mesmo Cleve para conseguir levantar meu astral:

— Max, vocês não vão estudar juntos outras vezes? E então? Você terá outras oportunidades. Eu sei que tudo dará certo!

Após essas palavras ecoarem por minha mente, dormi tranqüilo, sonhando com a próxima terça.

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