A História Real da Vida Real

No dia seguinte perdi mais uma vez o jogo de futebol de Nicole. Basquete não teve, porque elas tinham sido desclassificadas. Contudo, nos quebra-cabeças conseguimos ir melhor que no dia anterior e terminamos em primeiro. Isabelle estava muito contente quando recebemos a medalha de ouro, mas eu saí apressado para ver se restava alguma coisa dos jogos, em vão.

O tempo foi passando, e nossa sala foi perdendo em todos os esportes. O único que restava era handebol, que tinha sido deixado para o penúltimo dia de competição. Faltavam três jogos, isso se nossa equipe permanecesse vencendo. Os intervalos entre dois jogos eram cobertos por jogos de futebol masculino.

Almocei pelo Aristóteles mais uma vez para não perder sequer um momento com Nicole. E logo cedo ela chegou. Acenei e ela respondeu, à distância. Foi logo conversar com as meninas da equipe, pelo visto estavam decididas a não perder esses jogos que restavam.

Não pude nem trocar com ela um "oi", pois logo começou a primeira partida. As adversárias eram experientes, mas nossas garotas deram mais um show e Nicole foi a artilheira, com três gols.

Nenhum dos meninos da sala estava ali assistindo. Eles não estavam mais na competição de futebol e eu pensei que dessa vez Nicole ficaria um bom tempo ao meu lado.

Em parte eu estava certo. Ela realmente ficou ao meu lado. Entretanto, o time todo ficou. Tá, foi bom porque eu podia sentir o perfume dela, e admirá-la bem de perto, mas não tivemos chance de ficar a sós.

Falaram sobre muita besteira, e eu de vez em quando fazia algum comentário tão inútil quanto a conversa. Mas nada me interessava, apenas estar ao lado dela, sentindo seu perfume.

Quando vi, já era hora delas jogarem novamente! Era a semifinal. Mas dessa vez o jogo foi muito fácil. Nicole e as outras ganharam por mais de dez gols de diferença.

Tive então uma brilhante idéia. Além do jogo de futebol, haveria a outra semifinal de handebol feminino e ainda outro de futebol. Tínhamos mais de uma hora dessa maneira. Resolvi chamá-la para lanchar. Aproveitei-a vindo na minha direção antes que as outras chegassem e criei coragem:

— Ei, vamos comer alguma coisa?

— Claro, Max, vamos!

Meus olhos brilharam alegres quando ela disse isso. Mas o anticlímax foi completo na frase seguinte dela:

— Meninas, vamos comer alguma coisa?

Não era um dia de sorte. Fomos para a lanchonete do colégio. Eu pedi um milk-shake e as meninas pediram suco. E compramos uma pizza para nós todos.

Apesar da companhia indesejada do resto do time, foi interessante vê-la comendo algo. Sua maneira delicada de mastigar, e o modo alegre como conversava com as demais.

Todos tinham terminado e estávamos mais uma vez jogando conversa fora. Foi assim que o assunto surgiu. Mary-Anne que o começou:

— Meninas, vocês já repararam que o Max nunca fica com ninguém? Por quê, hein Max?

Eu fiquei mais nervoso do que nunca e não tive nem chance de pensar em uma resposta porque meus neurônios tinham deixado de funcionar. E em meio à confusão que se estabelecia na minha mente, pude ouvir algo que me marcou por muito tempo:

— Garanto que não é falta de pretendente.

Nicole tinha dito isso! Foi a voz dela que eu ouvi! Os lábios dela se mexendo. Todas as meninas logo estavam rindo, exceto Isabelle, que parecia um pouco nervosa também. Eu não raciocinei direito. Não sabia o que estava fazendo, nem pude acreditar no que ela tinha dito. Era uma indireta!

Logo as meninas deixaram o dinheiro do lanche comigo e saíram. Paguei e fui na direção da quadra, abobalhado. Ela queria ficar comigo? Se eu tivesse chamado-a para ficar comigo na festa, ela teria ficado?

Foi demais para mim. Não consegui prestar atenção direito na final, apenas vi Nicole fazendo um gol e o juiz apitando o fim do jogo, e a vitória da nossa sala. As meninas vibraram bastante, e quando notei estavam todas indo embora já.

A entrega das medalhas passou e eu nem vi, perdido que estava em meus pensamentos. Nicole ia saindo quando veio até mim, e mais uma vez meu coração pareceu que ia sair pela boca. Ela me deu um beijo estalado e molhado na face direita e saiu. Mesmo com esse resultado positivo, nossa sala não ficou entre as quatro finalistas da competição pela viagem, então não soubemos como foi a segunda etapa da disputa.

Caramba! Que dia! Saí da quadra lentamente, sem me dar conta da hora. E passei o resto do dia refletindo. Ela gosta de mim! Ou ao menos ficaria comigo! Ia dar certo! Ia dar certo! Nenhum Tom ia nos atrapalhar agora!