PARTE I - Capítulo 3: A Primeira Conversa

Vieram os dias seguintes. Aulas e mais aulas, mas muito pouco assunto, com a desculpa de ser primeira semana de aula, e com o alvoroço para a festa. Janice nos entregou o horário do primeiro semestre e pudemos conhecer todos os professores, inclusive alguns que já tinham sido meus professores no ano anterior, outros dos quais eu já muito tinha ouvido comentarem no colégio, e outros desconhecidos também.

Ainda na segunda-feira, pela tarde, tive uma conversa com minha mãe:

— Pois é, mãe. Vai haver uma festa nessa sexta, o que você acha?

— Eu acho que você deve ir, Maxwell. É bom se divertir de vez em quando, e ao menos você descansa uma sexta dessa Internet!

— É, tá bom.

— Amanhã vamos ao shopping pela tarde, ok?

— Shopping? Fazer o quê?

— Comprar uma roupa nova para você, é claro!

— Mas mãe, eu ia com aquela blusa preta, com um grande M na frente.

— O que?! Aquela que te dei no penúltimo Natal? Max, essa blusa já está velha, e você tem que ir bem arrumado para essa festa!!

— Pra quê?

— Ué, quem sabe não tem uma gatinha lá, e você estando bonito, ela vai reparar em você.

Ruborizei, mas gostei da explicação que minha mãe apresentou e não falei mais nada.


No dia seguinte fomos ao Shopping Leste, e ganhei uma nova calça preta, com menos bolsos do que eu gostaria; um sapato mais desconfortável do que eu desejava também; e uma blusa preta, essa sim, ao meu agrado.

Jantamos por lá mesmo e ainda pegamos uma sessão de cinema depois. Estava passando o novo filme romântico da Meg Ryan, e mamãe adora romances. Eu não sou um fã, mas até que o filme foi bom, e como ela pagou a entrada e ainda comprou pipoca e refrigerante, eu não tive do que reclamar.


Nos dois dias que se seguiram, nada de especial aconteceu. Saí de casa à tarde na quarta para pensar um pouco, dei umas voltas nas vizinhanças de casa, e na volta comprei o pão. Era minha intenção refletir um pouco, mas encontrei o Fred no caminho, e passamos meia hora comentando sobre duas gatinhas que estavam sentadas do outro lado da rua, com saias muito curtas. Uma delas estava até de olho em mim, mas eu quando as olhava, via Isabelle em uma e Nicole na outra.

Era para eu decidir meu destino nesse passeio, mas não fiz nada. Muito de mim estava preso à Isabelle. Eu não queria me desprender dela, talvez. Parecia que era mais cômodo para mim continuar gostando dela. Mas Nicole tinha entrado em minha mente de uma maneira muito agressiva. Eu tinha que me decidir ou ia enlouquecer.

Na quinta acertei com o Mike para ir com ele e o irmão para a festa. O irmão dele estava no terceiro ano, e já podia dirigir. Como moravam relativamente perto da minha casa e teriam que passar por aqui mesmo no caminho do Ponce de León, ficaram de me buscar.

Brad e Mike só falavam nessa festa, e que estavam de olho numas garotas do segundo ano B, e que iam atacá-las na festa. Até apostaram uma grade de cervejas para quem conseguisse fisgar uma das garotas primeiro. Argh, cerveja é horrível!

Todo o colégio estava em polvorosa com essa festa. Eu nunca tinha notado isso nos anos anteriores. Bem, talvez não fosse todo o colégio, apenas o Ensino Médio, e agora que eu faço parte dele, estou me sentindo muito movimentado! Muitos já estavam escolhendo músicas para pedir na festa e coisa do tipo.

Na quinta pela tarde joguei videogame, e nada mais. Fred apareceu lá em casa, e nos divertimos bastante com um jogo meio maluco, de corrida.


Enfim, veio a fatídica sexta-feira. O professor de Álgebra faltou e tivemos a quinta aula vaga. Contudo, teríamos a sexta da chatíssima professora de Biologia, e tínhamos que esperar.

Eu estava encostado no fundo da sala, pensando. Não agüentava mais ouvir aquele papo idiota dos meninos, planejando as garotas com as quais iam ficar na festa. E era freqüente eu me recostar sozinho a um canto, pensando em Isabelle e recentemente em Nicole.

Era exatamente isso que eu estava fazendo, pensando. Mas meus olhos ainda percorriam a sala, mesmo que vagos. E notei que Nicole conversava com Isabelle! Mas que coisa. Do que falavam? No meio da conversa, olharam ambas para mim.

Meu coração acelerou e devo ter ficado vermelho como um pimentão! Virei o rosto para o outro lado e quando olhei novamente, Nicole estava saindo de lá. Acompanhei os passos dela e quase enlouqueci quando percebi que ela estava se dirigindo para mim.

— Oi, Max.

Eu fiz uma cara de espanto e a adrenalina subiu até o limite. Eu estava muito nervoso.

— O-oi.

— E aí, vai pra festa?

— Vou sim.

Ela fez silêncio e nossos olhos se encararam por alguns instantes. Ela estava muito próxima a mim, e eu podia sentir o perfume que ela usava. Eu estava embebido nele quando criei coragem e dei continuidade ao papo:

— E você?

— Ah, claro que eu vou. Uma festa dessas eu não perco por nada!

Não consegui pensar em nada para falar e quase que falo besteira:

— Você se chama Nicole, não é mesmo?

— É. Nicole.

Nic. Vou chamá-la de Nic. Deuses! Será que alguém já teria colocado nela esse apelido carinhoso? Será que ela tinha namorado? Imaginei que Isabelle tinha dito a ela meu nome quando conversavam. Mas será que falaram de outra coisa?

Notei os lábios dela se abrindo lentamente, e me senti assistindo a um filme em câmera lenta. Eram imensos, parecia que iam me morder, ela tinha um ar de selvagem, como se... eu estava pensando besteira demais.

— Você estuda aqui há muito tempo?

— Ah, sim, desde a quinta série. É um colégio muito bom.

— É, estou gostando bastante. Tem garotas e garotos muito legais.

Será que ela falava de mim? Garotos legais...

— Você joga videogame?

Não, não fui eu quem fiz essa pergunta!!! Teria ela a capacidade de ler mentes? Teria ela perguntado a Isabelle do que eu gostava? Ou seria mesmo coincidência demais, e ela era interessada por games?

— Sim, jogo, gosto muito. E você?

— Ah, eu adoro. Principalmente jogos de luta!

Era demais pra minha cabeça. Eu já estava tonto. Foi tudo no mesmo momento. Nic. Videogame. O perfume dela preenchendo meus pulmões. Os olhos dela fitando os meus. A boca vai me devorar. Os cabelos ao vento. Garotos legais...

Neste exato momento, a professora passou pela porta.

— Bem, vai começar a aula! Temos que nos sentar.

Ela sorriu para mim após proferir essa frase e saiu. Caminhei apressado para o meu lugar e não consegui fazer mais nada. Não ouvi sequer uma palavra do que a velha professora estava falando. Meus pensamentos estavam desnorteados. Por que ela tinha ido falar comigo? O que teria conversado com Isabelle? Teria eu parecido bobo demais na sua frente? O que me aguardava mais tarde nessa festa? Realmente, essa seria uma grande festa!

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