A História Real da Vida Real

Durante a tarde não consegui fazer nada! Fui cortar meu cabelo e até estava contente pelos trajes novos que minha mãe tinha comprado. Tomei um banho interminável, eu queria que tudo estivesse perfeito. Mal consegui comer no jantar, de tão nervoso que eu estava. Nove e meia eu já estava pronto. O irmão de Mike disse que passaria aqui às dez. Minha mãe notou meu nervosismo e veio me questionar:

— Maxwell, o que você tem?

— Hã-ã, e-eu?

— Sim, você está nervoso.

— É que... é minha estréia em festas do colégio, dá sempre um nervosismo, mesmo que seja pequeno.

— Humm, sei. Olha, o irmão do Mike vem te deixar em casa também? Ou você acha melhor pegar um táxi?

— Sim, ele vem.

— E que horas vocês vêm?

— Bom, a Janice disse que acabaria lá pelas 3, 4.

Nesse momento uma buzina se fez ouvir.

— Opa, já vou mãe!

— Divirta-se, meu filho.

Em poucos minutos estávamos no Ponce de León. Não tinha chegado muita gente ainda. Afinal, era cedo. Tom já estava lá e ficamos os três – ele, eu e Mike – conversando. Pra variar, o assunto preferido deles: garotas!

E os alunos começaram a chegar. As tão faladas meninas do segundo ano realmente eram muito bonitas, e a festa inteira estava de olho nelas. E então chegaram Isabelle e Alicia, uma amiga dela, também da nossa sala.

Isabelle sorriu para mim e as duas foram falar com uma menina de outro primeiro ano, que estava perto do som. A música não era bem o meu estilo, mas tudo bem. Até que já tinha muita gente, mas para mim estava meio desanimado ainda. Tudo mudou quando uma certa figura em especial surgiu na entrada do local.

Nicole estava, como posso dizer, soberba! Uma blusa rosa, clarinha, colada em seu corpo, e deixando aparecer um pouco de sua barriga. Uma saia de um rosa-choque, bem forte, na altura de seus joelhos. Para completar, uma sandália também rosa. Seus cabelos estavam lindos, como sempre. E seus lábios já olhavam para mim, junto com seus olhos.

Ela acenou para Isabelle e Alicia, de longe e veio na minha direção. Tom e Mike ficaram notavelmente chocados quando ela sorriu para mim e me deu aqueles dois beijinhos de cumprimento. Eles só receberam um mero "oi".

— E aí, a festa tá legal?

— É... mais ou menos.

Ela tinha vindo falar comigo!!! Ai, ai, o que eu faço, o que eu digo? Todavia, mal estava eu pensando no que dizer e ela tomou a iniciativa.

— Vamos dar uma volta!

Eu jamais tinha sentido algo assim. A mão direita dela caminhou lentamente para a minha esquerda e a segurou firmemente! E ela me puxou. Fomos andando pelo clube, de mãos dadas!! Eu estava vivendo um sonho. Como era intenso o calor que a mão dela emanava para a minha. Era uma mão tão delicada, e mesmo assim apertava a minha com firmeza. Era a garota mais linda que eu já tinha visto! Meu coração palpitava dezenas de vezes mais acelerado do que o normal, parecia que ia explodir, saltar de meu corpo. Eu quase podia sentir os hormônios circulando pelo meu sangue, a adrenalina subindo à minha cabeça.

Creio que todo mundo nos viu. Ao menos todas as pessoas que eu conhecia na festa puseram seus olhos na gente quando nos aproximamos. Andamos por todo o local, até que ela parou no bar. Ser gentil era algo que eu sabia ser!

— Você quer um refrigerante?

— Ah, sim, eu já ia pedir um mesmo!

E assim pedimos cada um seu refrigerante e tomamos encostados no balcão. Eu já estava pensando em um assunto para puxar com ela, quando ela novamente segurou minha mão e falou:

— Vamos ali no DJ comigo? Quero pedir uma música!

— Sim, vamos!

Chegamos junto ao DJ Bubble Gum, o mais famoso da cidade. Ele animava a maioria das festas bem produzidas. Devia ser alto seu salário, realmente a diretora devia estar doida quando aceitou custear de seu bolso uma festa como essa. Será que todo ano era assim?

Do lado da mesa de som tinha um bloco de papel, que servia para fazerem pedidos. Vi quando Nicole escreveu o nome Angel no papel. Nos dirigimos para o meio do pessoal.

— Quem é Angel?

— Você não conhece? É uma nova cantora, inglesa, tem apenas 15 anos e está fazendo muito sucesso ultimamente.

— Ah, legal. Não conheço.

Os pedidos eram muitos e tocaram ainda umas dez músicas antes da que Nic tinha pedido. Nós dançamos umas três dance music que passaram, duas do Gigi D'Agostino e uma do Fatboy Slim, muito legais. Ela estava começando a suar e eu estava encantado vendo o suor dela. Sei que parece besteira dizendo, mas o perfume dela estava mais forte agora e parecia agir sobre mim de uma maneira inesperada. Eu tinha que descobrir o nome desse perfume.

Ela girava seu corpo de uma maneira sensual. Eu acompanhava cada milímetro dela vibrando ao som da batida forte que ressoava na música. A pele dela era linda, e aqueles lábios... cada vez mais eu sentia vontade de tocá-los, de beijá-los. Eu reparava em cada detalhe dela. O modo como as sobrancelhas se arqueavam quando ela me olhava, a maneira com que seus cílios vibravam no ato dela piscar seus olhos, todos os músculos de sua face se contraindo para sua belíssima boca formar um sorriso nada menos que encantador.

Eu estava enlouquecendo. A barriga dela era linda! Seu umbigo raso e levemente ovalado. O jeito com que ela dançava parecia um convite. Eu estava zonzo. Não sabia o que fazer, decididamente não sabia. Eu não tinha noção do que se passava ao meu redor. Todo o tempo que passei ao lado de Nicole foi para mim um sonho. Eu nada notei, parecia que estávamos só nós dois. Não sei onde estavam Mike, Brad ou Tom, muito menos Isabelle. A festa para mim era essa deslumbrante garota que dançava na minha frente.

Então começou uma música vibrante. Um pop diferente de tudo que eu já tinha escutado antes. Nicole falou no meu ouvido:

— Se chama Dancing for me.

A voz dela era encantadora. Quer dizer, delas. A voz de Nicole no meu ouvido era linda. O rosto dela próximo ao meu, era tudo. Ela emanava um calor muito forte e aconchegante. Ah, e a voz da cantora era bonita também. Notei que se tratava da tal Angel quando logo no início da música ela sibilou a seguinte frase: "Yeah, i'm Angel, and i want you dancing for me!".

Nicole falou rápido para mim:

— Olha, tem uma coreografia, mas é bem simples, logo você aprende.

Eu estava mais que nervoso. Eu não era muito bom em dançar. Aliás, faltava-me prática, afinal eu mal saía de casa, a não ser para as aulas.

Ao som do refrão da música, Nic me ensinou como proceder. Eram movimentos fáceis e a batida da música ajudava a acertar as horas certas dos passos. Ela se mexia e eu tentava imitar. No primeiro refrão foi difícil, mas... ela pegou novamente nas minhas mãos, e se posicionou bem na minha frente, de costas para mim. De modo que a cada movimento dela, eu era obrigado a me mexer também, pois nossas mãos estavam unidas. Foi mágico. Eu podia sentir as batidas do coração dela acompanhando as da música, enquanto o refrão embalava essa magia.

No fim da música eu já sabia dançar bem. Jamais me esquecerei desse momento. Estivemos muito juntos. As músicas seguintes foram todas dançantes e vibramos juntos novamente. Então começaram algumas músicas lentas, já devia ser quase uma da manhã. Paramos de dançar quando vimos o pessoal da sala todo conversando, em um canto do salão.

Dirigimos-nos ao local, ela me puxando pela mão. Eu estava começando a me acostumar com o calor da mão dela. Mas eu não sabia o que fazer. Nem o que pensar. Jamais pensei que fosse acontecer algo assim comigo.

Lá, Brad estava passando seu braço pela cintura de uma das tais garotas do segundo ano. Mike estava beijando uma outra, uma garota que eu não conhecia. Alicia estava com um cara do terceiro, bem alto. Tom estava sozinho e Isabelle também. Eu cheguei com Nicole e ficamos conversando com o pessoal. Ela puxou minhas mãos e me fez abraçá-la, colocando as mãos na barriga dela e segurando-as com as dela por cima. Eu nada ouvia. Estava estupefato. Como era intenso tudo aquilo. Nesse dia eu soube como é bom ser adolescente.

Eu estava super nervoso, com vergonha do pessoal ali ao lado, vendo tudo. Tom parecia chateado, talvez por estar sozinho. Mike nem estava dando atenção à gente, só queria aproveitar a garota. Brad e Alicia estavam conversando normalmente, não lembro o assunto, pois também não consegui prestar atenção em nada. Isabelle não olhava para a gente, não sei o porquê. Parecia nervosa. E pouco depois falou:

— Pessoal, tenho que ir. Está na hora de meus pais virem me buscar.

E acenou para nós, já saindo. O pessoal quis voltar a dançar, tinham parado só para descansar e para beber refrigerante. Mike e Brad dançavam com suas garotas. Eu, Nicole, Tom e Alicia ficamos dançando, os quatro. Estava ótimo, mas por mim eu ficava sozinho com Nic, estava tudo tão bom.

Depois de alguns rocks meio antigos, a festa começou a esvaziar, aos poucos. Alicia e Tom já tinham ido embora, mas as garotas de Brad e Mike também, então eles estavam conosco. Nisso, o irmão de Mike fez para ele sinal de que queria ir. Eram quase quatro da manhã já. Eu ainda tinha muita energia, aliás, estava eufórico. Mas era mesmo hora de ir.

— Bem, até mais pessoal.

Mal eu terminei de dizer essa frase e Nicole me abraçou, disse que adorou dançar comigo, e... me deu um beijo no rosto, na face direita. Saí com Mike, abobado. Aqueles lábios maravilhosos tinham encostado na minha bochecha! Conseguiria eu lavar meu rosto?

Bem, o irmão de Mike me deixou em casa e fui dormir.