— E aí, pessoal? — disse Tom, entrando na sala. Eu tinha chegado há alguns minutos e lá já estavam o Brad, o Mike e o Alfred, além de umas meninas que costumam sentar do outro lado da sala também.
Eram ainda seis e trinta e cinco. A aula só começava às sete. Eu realmente gostava de chegar bem adiantado aos lugares, principalmente no primeiro dia de aula no colégio, pois gosto de sentar todos os anos na mesma cadeira e, por convenção, no primeiro dia de aula quem sentar fica.
Os meninos falavam sobre um monte de besteiras.
— Ei, Max, conta pra gente, já conseguiu pegar alguma gatinha?
— Nada, imagina, eu sou lento, vocês sabem — eu obviamente não contei a nenhum desses babacas sobre Isabelle. — e vocês?
O Mike e o Brad como sempre começaram a se exibir. Cada um que conte mais invenções sobre como conquistaram tal menina, sobre como uma menina do segundo ano foi atrás de um deles, coisa do tipo. Eu estava ouvindo a conversa, mas meu pensamento estava em uma dica que eu andava precisando para passar de um ponto em um jogo de videogame que estava jogando. Eu tinha que pegar essa dica na Internet ainda hoje!
A conversa fiada continuou e acabei indo me sentar. Abri o caderno e comecei a ajeitar as matérias. Eu ainda não sabia sobre os professores ou sobre o horário de cada aula, mas fazia uma idéia sobre que matérias teria, claro.
Eu estava a preencher a folha de capa da matéria de matemática quando por acaso levanto a cabeça e vislumbro Isabelle passando pela porta. Ah! Mal sabia eu que esse seria o último dia em que a veria com esses olhos. Olhos de apaixonado.
Isabelle estava linda como sempre. Era impressionante como a farda do colégio se ajustava perfeitamente a ela. Como era linda aquela menina! Acenei para ela e vibrei silenciosamente do meu canto quando ela novamente pegou a cadeira ao meu lado.
— Oi, como foram as férias?
— Tudo bem, Max? Minhas férias foram tranqüilas... viajei bastante. E as suas?
— Nada de mais, fiquei jogando videogame.
— Ah, como sempre.
Estávamos nessa conversa quando um professor entrou na sala. Reconheci ser um professor de literatura do qual eu já tinha ouvido falar. Comentavam sobre as tremendamente difíceis provas que ele aplicava. E diziam que ninguém conversava em suas aulas.
Vendo assim mais de perto, ele não me parecia ter idade para se fazer valer a sua autoridade. Mas, se todos falam, deve ter algum fundo de verdade.
— Bom dia, alunos. Me chamo Herbert, e serei o professor de literatura de vocês nesse ano. Eu gostaria de fazer uma breve introdução e debater sobre todo o assunto a ser trabalhado nesse ano letivo. Porém, tive a infelicidade de pegar logo a primeira aula, e a coordenadora da série de vocês me pediu meia hora.
Mal ele terminou de falar e a coordenadora Janice bateu na porta e já foi abrindo e entrando. Seguindo ela vieram dois alunos, que pareciam ser novatos. Um menino e... uma menina.
Eu também conhecia Janice de vista. Dizem que se ela simpatiza com o aluno tudo vai bem, mas senão, qualquer reclamação é suspensão na certa. A coordenadora pôs-se então a falar:
— Muito bem, turma. Quero dar as boas-vindas a todos vocês em mais um ano...
Não ouvi mais nada. Ou melhor, meus ouvidos ouviram, mas minha mente não. Nesse exato momento meu olhar tinha por acaso cruzado o da garota que estava ao lado da coordenadora.
Ela devia ser pouca coisa mais baixa que eu, com cabelos lisos e castanhos, pouco abaixo das orelhas. Seus olhos tinham um castanho profundo, dando-lhe um ar enigmático. Possuía a pele levemente caramelada e as feições do rosto suaves. Sua boca era esplêndida! Nesse instante descobri que adorava lábios carnudos e bem avermelhados.
—... apresentar os dois novos alunos: este é Charles e essa é Nicole. Espero que se dêem bem...
Nicole... o nome dela era Nicole. Mas o que eu estava fazendo? Eu gostava da Isabelle, não gostava? Peraí, gostava? Não gosto mais? Devo estar ficando louco. É claro que eu sou apaixonado pela Isabelle, ora bolas!
Janice então concluiu sua apresentação e deu os dez minutos que restaram da aula como intervalo para nós.
O aluno chamado Charles sentou algumas cadeiras atrás de mim. Nicole se sentou na terceira carteira da fila ao lado da minha, encabeçada por Isabelle.
Os olhos dela eram mais do que eu podia suportar. Ela quando me olhava parecia que queria me devorar. Eu devia estar com aspecto de babaca. Mas o importante é que vez ou outra ela me direcionava seu olhar.
Algumas meninas e até alguns garotos tinham ido trocar algumas palavras com ela, mas eu era tímido demais para isso. Preferi ficar quietinho no meu canto, só observando.
Eu nem sabia bem o que pensar. Há menos de uma hora eu só falava em Isabelle, agora parecia que ela não mais significava nada para mim. Não. De alguma maneira, isso deveria ser invenção minha. O que aconteceu foi que me espantei com os olhos de Nicole, só isso. É, foi só isso mesmo. A garota da minha vida ainda era Isabelle.
Veio a segunda aula, do hilário professor de História, Demétrius. Era impressionante a flexibilidade dele para ministrar o assunto. Parecia que estávamos tendo um curso de piadas de tanto que os alunos gargalharam durante a aula. Mas quando ele saiu, após a terceira aula, que também foi dele, percebi que tinha aprendido tudo sobre mercantilismo. Que método genial de ensino!
E então... o intervalo. Saí com os meninos, com Tom e Brad, conversando a respeito de uma música que tinham ouvido na rádio. Descemos as escadas, pois o primeiro ano ficava em uma sala do segundo andar, e nos dirigimos para o pátio, junto à lanchonete.
Tinham feito umas melhorias no Aristóteles! Várias mesas em frente à lanchonete, como se fosse uma praça de alimentação. Bem legal. Eu não lanchava sempre. De vez em quando me dava vontade e eu tomava um sorvete, ou comia um pastel, mas não costumava passar disso. Os meninos compraram lanche e sentamos, os três, em uma mesa.
Começou o papo de adolescente sem namorada. Cada um que olhava para uma menina e apontava os dotes físicos da coitada. Eu não estava muito interessado, até que Brad de repente mexeu no que parecia ser um ponto chave para mim:
— Aquela novata é linda, hein? Olha... rapaz! Vou ver se fico com ela na festa.
Essas palavras soaram como gritos escaldantes para mim.
— Festa? Que festa?
— Você não tá sabendo, Max? — resmungou Tom.
— Não sei de nada!
— Pois é, acho que vai ser na sexta ou no sábado, para comemorar o início das aulas.
— Que novidade é essa?
— Novidade para a gente só. É que agora somos elite! Só do primeiro ano em diante que os alunos podem ir a essa festa, mas todo ano ela acontece, você nunca ouviu falar mesmo?
Fiz um esforço, mas não estava conseguindo pensar direito. Olhei para os lados e lá estava ela. A visão do paraíso. Como eram lindos seus cabelos. E os lábios... ah, os lábios! Que lábios!
Estava perdido em meus pensamentos e distraído, admirando a mais bela obra da natureza que já tinha passado pela minha frente, quando aconteceu. Nicole se virou e seus olhos mais uma vez encontraram os meus. E ela sorriu para mim!
Mas que sorriso encantador ela tinha! Ela sorriu para mim! Para mim! Uma garota linda tinha sorrido para mim. Eu estava perdido. Sim, amigos, meu coração agora batia por outra! Eu devia ter acreditado nisso quando a vi na sala de aula. Mas agora eu sei que é verdade.
Eu sonhava alto, só via Nicole na minha frente, quando uma voz feminina e histérica soou ao meu lado:
— Max! Max! Você está bem?
— Hã?! I-Isabelle?? O que você está fazendo aqui? — eu estava completamente desconcertado. Teria ela me visto "babando" por Nicole?
— Eu também tenho direito de vir lanchar na praça de alimentação nova, caso não saiba. E vamos logo! Já deu o toque da quarta aula, você não ouviu?
— Tocou? Não, não ouvi!
Ela ficou séria e seguiu em frente, sem me dar atenção. Foi quando me dei conta que Tom e Brad já tinham ido para a sala e quase todo mundo também. Apressei-me e cheguei ainda antes do professor.
E a quarta aula foi um verdadeiro desastre no que diz respeito aos estudos. Passei todo o tempo com Nicole na cabeça e me virando de 5 em 5 minutos para dar uma pequena espiada nela. Por que eu estava fazendo aquilo? Mas que coisa! Eu devia parecer um maluco! Sorte minha que a professora de Biologia era mais velha que a minha avó e nem enxergava direito. Como ela ainda dava aula? No mínimo, tinha muita amizade com a diretora, só podia ser.
Mas o tempo até que passou rápido. Eu estava entretido demais para senti-lo passar. Quando percebi, a professora já tinha saído da sala e a coordenadora Janice estava novamente entrando, acompanhada da chatíssima diretora Yoko. Era uma japonesa que morava no Ocidente desde criança.
Janice fez sinal para que fizéssemos silêncio e falou:
— Crianças, crianças! Dona Yoko tem um aviso para dar a vocês, comportem-se, hein?
E a velha de olhos puxados se pronunciou:
— Muito bem. Primeiro, queria dar as boas-vindas a todos, desejar um bom ano, e que estudem muito, pois esse ano não terei pena de ninguém e reprovarei todos que não conseguirem passar na prova final.
Vi muitos amigos assustados com a notícia, que não me chocou. Eu jamais tinha precisado fazer prova final, não iria ser logo agora. Ainda mais não conseguir passar nela... credo!
— Em segundo lugar, acabei de fixar na porta da sala as novas normas da escola e exijo que elas sejam formalmente cumpridas. Instalei melhorias por todo o colégio e se vocês tiverem o mínimo de respeito pelo local onde estudam vão ajudar a preservar as boas condições de seu novo ambiente. Por fim, sexta-feira ocorrerá o baile de boas-vindas aos alunos do Ensino Médio. Irei agora a outras turmas e Janice falará do baile a vocês.
A diretora saiu e a coordenadora assumiu o comando da voz:
— Pessoal, a festa é só dos alunos, vejam bem! Não há senhas. Cada aluno deverá levar seu crachá do colégio e ele será a identificação. A festa será no Ponce de León e começará às 22 horas dessa sexta, se prolongando até umas 3 ou 4, dependendo da animação de vocês. O som será eletrônico e pedidos de músicas poderão ser feitos. Todos os estilos musicais poderão ser tocados. Será expressamente proibido o consumo de bebidas alcoólicas e de cigarros, além de, obviamente, outros tipos de drogas. O aluno pego com qualquer uma dessas restrições terá a mesma punição que se tivesse feito isso no colégio, ou seja, expulsão. Bom, creio que era só isso. Por hoje vocês estão livres. Amanhã entregarei os horários e as aulas começarão para valer.
E assim acabou o primeiro dia de aula do meu novo ano. E que dia. Será que eu estava mesmo apaixonado? Era linda aquela novata. Nicole. Ni-co-le. Ah, eu tinha que repensar algumas coisas sobre minha vida.

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